Plástico infinitamente reciclável: solução ou cortina de fumaça para passivos ambientais?

Plástico infinitamente reciclável não soluciona questões relacionadas ao consumo excessivo do material

Plástico infinitamente reciclável parece ser uma solução viável, entretanto, este nome não faz jus às suas propriedades reais. Em toda reciclagem de plástico há perda de matéria, água e energia, e o uso de objetos de plástico, como roupas de fibras de poliéster, independente do descarte correto, já é problemático, pois libera microplásticos no ambiente.

Por que o plástico é um problema?

Oito milhões de toneladas de resíduos plásticos vão parar em aterros sanitários todos os anos. Esses descartes, se fossem encaminhados corretamente para a reciclagem, poderiam voltar para a cadeia energética.

Mas, em vez da sociedade aproveitar o que já existe com reúso ou reciclagem, nas últimas décadas, o que se verifica é que a produção de plástico tem aumentado significativamente. Isso se dá em função da sua aplicabilidade em itens de diferentes setores. Dentre os polímeros mais comuns, destacam-se o polipropileno, o polietileno, o policloreto de vinila, o poliestireno e o polietileno tereftalato, que correspondem a cerca de 90% da demanda de plástico no mundo.

A procura por materiais plásticos também está relacionada ao seu baixo custo, alta durabilidade e resistência a produtos químicos, radiação e pressão. Em consequência do consumo de produtos feitos por esses polímeros, são geradas grandes quantidades de resíduos que nem sempre são reciclados ou reutilizados, sendo lançados de forma direta ou indireta no ambiente e causando uma série de danos.

Nesse cenário, uma equipe de pesquisadores do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley desenvolveu um plástico infinitamente reciclável chamado poli-diketoenamine (PDK), que pode ser “desmontado” a nível molecular e depois remontado repetidas vezes, mantendo suas propriedades intactas. Mas seria esta uma solução real para o passivo ambiental do uso de plástico?

Propriedades do plástico infinitamente reciclável

A equipe – liderada por Brett Helms, e com coautoria de Angelique Scheuermann e Kathryn Loeffler, ambas pesquisadoras de graduação na época do estudo – relata que, diferente dos plásticos convencionais, os monômeros do PDK podem ser recuperados simplesmente mergulhando o material em uma solução altamente ácida.

De acordo com Helms, as ligações imutáveis dos plásticos convencionais são substituídas por ligações reversíveis no PDK, as quais permitem que ele seja reciclado com mais eficiência. Após a realização de testes, foi demonstrado que o ácido decompõe as cadeias poliméricas do PDK em monômeros e também permite que eles sejam separados dos aditivos presentes na formulação.

Em seguida, os monômeros do PDK são recuperados e podem ser transformados novamente em polímeros e repetir tal processo indefinidas vezes, sem herdar a cor ou outras características do material original. No entanto, existem alguns mitos por trás do plástico infinitamente reciclável.

Mito do “eternamente reciclável” e a economia circular

O plástico não é eternamente reciclável: a cada ciclo, menos produto pode ser recuperado e o processo gera dejetos, além de consumir energia e água. Ou seja, está longe de ser algo inofensivo, como alguns poderiam pensar. Tanto a produção, quanto a reciclagem do plástico são altamente poluentes.

A reciclagem precisa ser incentivada, mas, o estímulo ao consumo desenfreado do plástico, com o emblema de “infinitamente reciclável“ pode servir de cortina de fumaça para encobrir problemas maiores, como o contato com disruptores endócrinos e a poluição por microplásticos, que se soltam no ar bastando um simples atrito do objeto, seja um pneu ou peça de roupa, independente do descarte correto.

O plástico reciclável é melhor do que o não reciclável, mas somente a reciclagem não é suficiente para tornar sustentáveis os produtos descartáveis, em especial os de uso único. Em um contexto ideal, é preciso repensar o modelo econômico de modo que o descarte não exista, este é um princípio da economia circular. Dessa forma, os sistemas funcionam melhor, com maior economia de recursos e energia, e menos poluição.

Fonte: https://www.ecycle.com.br/

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